EXPLORANDO OS COMPONENTES DO POTENCIAL CORTICAL AUDITIVO COMO INDICADORES DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Bortoletto, B. ;
Zanchetta, S. ;
Furegatto, J.S ;
Lunardelo, P.P. ;
As componentes corticais auditivas N1, P2 e N2 estão associadas à percepção de fala. Estas são moduladas pela constituição espectro-temporal do estímulo e pela natureza da tarefa (decisões fonológicas ou lexicais), demonstrando sensibilidade a variações fonológicas e a capacidade de discriminar elementos linguísticos. As componentes N1-P2-N2 ocorrem entre 100 e 250 ms, período em que também são registradas respostas a contrastes fonêmicos, sugerindo que tarefas de consciência fonológica (CF) podem ser refletidas por elas. Poucos estudos investigam a relação entre essas componentes e o desempenho em CF. Ampliar esse conhecimento pode promover o uso dessas medidas como ferramentas indiretas para avaliar a CF em transtornos do neurodesenvolvimento, complementar diagnósticos e monitorar o progresso terapêutico em linguagem. OBJETIVO: Investigar a relação entre as componentes auditivas N1, P2 e N2 com o desempenho em tarefas de CF. MÉTODO: PROSPERO: CRD42024539506. Utilizou-se o acrônimo POT para estabelecer critérios de elegibilidade, respondendo à questão: "A latência e/ou a amplitude das componentes auditivas N1, P2 e N2 podem refletir o desempenho em tarefas de CF?". Identificou-se os artigos nas bases de dados CINAHL, Embase, Web of Science e PubMed, além de literatura cinzenta (Google Scholar, Open Gray, ProQuest). Não houve restrições de período ou idioma. Na fase 1, os artigos foram selecionados pelo título e resumo, com calibração entre revisores (coeficiente Kappa =0,91). Na fase 2, os estudos foram analisados na íntegra para confirmar a adequação aos critérios de pesquisa. Foram incluídos estudos que registraram uma das componente auditivas (N1-P2-N2) durante tarefas de priming fonológico, correlacionaram as componentes com o desempenho de CF ou compararam latência/amplitude entre grupos com diferenças no desempenho de CF. RESULTADOS: Identificou-se 371 registros (base
de dados: 253; literatura cinzenta: 118). Após remover 76 duplicatas, 295 estudos foram triados, com 266 excluídos na fase 1. Restaram 29 estudos para análise completa, resultando em 7 artigos incluídos. Os estudos, publicados entre 2004 e 2021, foram realizados no Brasil, Holanda, China, Canadá e Finlândia. A relação entre as componentes auditivas e o desempenho em CF foi analisada em 194 indivíduos de diferentes idades.
Quatro estudos investigaram a relação por meio de tarefas de priming fonológico, dois correlacionaram CF com as componentes auditivas e um analisou mudanças após treinamento. Cinco estudos sugeriram que estas componentes podem predizer o desempenho em CF, mostrando que tarefas com aliteração e rima modulam a amplitude de N1 e/ou N2, com diminuição da amplitude para priming de aliteração. Um estudo associou
maior amplitude de N2 ao melhor desempenho de CF em crianças com Transtorno do Desenvolvimento de Linguagem, atribuindo à uma compensação. Outro estudo associou a maior proficiência em romanização do cantonês (caracteres latinos) com maiores amplitudes de N1 e P2. CONCLUSÃO: As componentes N1, P2 e N2 podem predizer o desempenho em tarefas de CF, tanto no priming fonológico quanto em medidas de correlações com provas linguísticas convencionais. Contudo, poucos estudos foram encontrados, evidenciando a necessidade de mais investigações para compreender essa relação, especialmente em sub-tarefas de CF ainda não exploradas.
DADOS DE PUBLICAÇÃO