HIPOFUNÇÃO VESTIBULAR BILATERAL EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Nascimento, G.F.F ;
Lacour, M ;
Diniz, R.V.Z ;
Diniz Júnior, J. ;
Mantello, E. B ;
Introdução: A hipofunção vestibular bilateral (HVB) é uma condição crônica caracterizada por comprometimento grave ou ausência da função vestibular em ambos os labirintos. Pode levar a sintomas como oscilopsia, instabilidade e vertigem, afetar negativamente a qualidade de vida. Doenças cardiovasculares (DCV), particularmente a insuficiência cardíaca (IC), têm sido associadas à sintomas cocleovestibulares, embora a relação entre IC e HVB permaneça pouco explorada. Objetivo: Caracterizar sintomas otoneurológicos, achados de avaliação vestibular de alta frequência, resultados de testes de equilíbrio e tratamento farmacológico em pacientes com IC para investigar a potencial associação com HVB. Metodologia: Estudo observacional, descritivo e transversal, com análise retrospectiva, aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa, sob número de parecer 2.809.558. Foram analisados prontuários médicos de pacientes com IC encaminhados para avaliação vestibular entre junho de 2019 a janeiro de 2020. Os critérios de inclusão para a seleção dos prontuários foram: diagnóstico de IC e hipótese funcional de HVB confirmada por teste de impulso cefálico por vídeo (vHIT) e testes de equilíbrio clínico. Dados sobre sintomas, medicamentos e avaliações vestibulares foram coletados. O equilíbrio estático e dinâmico foi avaliado usando os testes de Romberg e Prova de Unterberger-Fukuda (PUF). O vHIT investigou o ganho do reflexo vestíbulo-ocular (RVO), a presença e caracterização das sacadas. Resultados: Dez pacientes (90% homens, média 63,5 anos de idade) preencheram os critérios de inclusão. As etiologias da IC incluíram cardiomiopatia isquêmica (50%), cardiomiopatia alcoólica (20%), cardiomiopatia hipertensiva (20%) e cardiomiopatia periparto (10%). Todos os pacientes relataram sintomas vestibulares: oscilopsia (90%), zumbido (70%), instabilidade (70%) e vertigem (50%). Testes de equilíbrio estático revelou 100% de comprometimento, na condição olhos fechados, com instabilidade e quedas. Da mesma forma, a PUF demonstrou deslocamento significativo (maior que 1 metro) em todos os pacientes. O vHIT mostrou ganho do reflexo vestíbulo-ocular (RVO) reduzido em todos os canais semicirculares (CSCs), com valores limítrofes para o CSC lateral direito (0,74) e presença de sacadas compensatórias. A análise de latência indicou sacadas encobertas e evidentes para os CSCs horizontais, com o escore de Pérez-Ray (PR) confirmando compensação vestibular incompleta bilateralmente (pontuação média de PR: 61,66% para CSC lateral direito; 40,40% para CSS lateral esquerdo). A análise dos medicamentos evidenciou o uso de medicamentos com potencial vestibulotóxico, incluindo ácido acetilsalicílico (60%) e cloridrato de amiodarona (30%), ambos relacionados à disfunção vestibular devido ao poder ototóxico associado. A polifarmácia provavelmente contribuiu para o comprometimento vestibular observado. Conclusão: Os pacientes com IC apresentaram HVB caracterizada por ganho de RVO prejudicado, presença de sacadas compensatórias, equilíbrio estático e dinâmico comprometido. Os achados sugerem que alterações sistêmicas causadas pela IC, combinadas com medicamentos vestibulotóxicos, podem prejudicar a função do sistema cocleovestibular. Sendo assim, a avaliação vestibular em pacientes com IC torna-se necessária, mesmo na ausência de sintomas cardiovasculares graves.
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