HÁ CORRELAÇÃO ENTRE A ESCOLARIDADE DA FAMÍLIA, O TEMPO DE PRIVAÇÃO SENSORIAL E O USO DE APARELHOS AUDITIVOS EM CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA?
Almeida, M. L. L. ;
Barreto, J. S. ;
Martins, G. S. ;
Brazorotto, J. S. ;
Introdução: A privação sensorial auditiva é uma barreira significativa para o desenvolvimento infantil. Para a efetividade da reabilitação auditiva é necessário, portanto, garantir o acesso precoce à fala com o uso constante de dispositivos auditivos. Nesse sentido, estudos têm evidenciado que o nível de escolaridade das famílias pode influenciar o desempenho comunicativo das crianças, indicando que pais com menor escolaridade apresentam maior dificuldade para proporcionar um ambiente facilitador de desenvolvimento à criança. Objetivo: Verificar se a escolaridade do cuidador principal está correlacionada com o tempo de privação sensorial e com a medida do uso diário de aparelhos auditivos em crianças com deficiência auditiva e se há diferença entre os grupos de menor e maior escolaridade em relação a essas variáveis. Metodologia: Estudo retrospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética Institucional, sob o parecer número 7.316.303. A pesquisa analisou 58 prontuários com dados completos de crianças que ingressaram, entre 2005 e 2019, em um programa de reabilitação de um serviço de saúde auditiva do SUS. Foram analisados dados referentes à escolaridade do cuidador principal (mãe), o tempo de privação sensorial (meses) e a medida do uso de aparelhos auditivos por meio do datalogging (horas/dia). Os dados foram tabulados em planilha Excel® e analisados de forma descritiva e inferencial. Foi aplicado o teste de Correlação de Spearman para verificar a associação entre as variáveis e o teste de Mann-Whitney para avaliar a diferença entre os grupos de menor e maior escolaridade, adotando o valor de p < 0,05. Resultados: 46,6% da amostra era composta por mães/cuidadoras com ensino fundamental ou médio incompleto (EFM) e 53,4% da amostra com escolaridade de ensino médio a superior completo (EMS). A média do tempo de privação sensorial (TPS) foi de 79,1 meses (dp 37,9) e a do tempo de uso diário dos aparelhos auditivos foi de 10,1 horas/dia (dp 4,06). Não foi observada correlação entre a escolaridade e o tempo de privação sensorial (p=0,70), nem entre a escolaridade e o datalogging da orelha direita (p=0,50) e da orelha esquerda (p=0,30). Na análise comparativa entre os grupos EFM e EMS não foi observada diferença estatisticamente significativa para o TPS (p=0,55) e datalogging da orelha direita (p=0,62) e da orelha esquerda (p=0,41). Conclusão: A análise não evidenciou correlação entre a escolaridade dos responsáveis, o tempo de privação sensorial e o uso diário de aparelhos auditivos pelas crianças da amostra. Além disso, não foram constatadas diferenças significativas entre os grupos de menor e maior escolaridade. Considerando a complexidade dos fatores associados, estudos multicêntricos são necessários para ampliar a compreensão das variáveis que influenciam o tempo de privação sensorial e o uso de dispositivos auditivos em crianças com deficiência auditiva no contexto brasileiro.
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