PROCESSAMENTO ESPACIAL EM CRIANÇAS COM HISTÓRICO DE OTITE
QUEIROZ, J.M ;
COLELLA-SANTOS, M.F ;
CARVALHO, G.N ;
Ubiali; T. ;
Borges; LR. ;
Introdução: O Teste de Processamento Espacial de Sentenças no Ruído em
Português (PROSER) avalia o Processamento Auditivo Espacial (PAE), habilidade
que permite focar na mensagem principal e suprimir estímulos competitivos vindos
de diferentes posições. Alterações nessa habilidade podem dificultar a compreensão
de fala em ambientes ruidosos, caracterizando o Transtorno do Processamento
Espacial (TPAE), cuja principal causa é o histórico de otite média (OM). Objetivo:
Analisar o PAE de crianças com histórico de OM. Método: Este estudo prospectivo
e transversal foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição (Parecer
nº 6.752.209). A amostra incluiu 80 crianças de 6 a 10 anos, divididas em três
grupos: Grupo Experimental I (GEI), com 30 crianças portadoras de fissura
labiopalatina e histórico de OM; Grupo Experimental II (GEII), com 20 crianças com
histórico de OM e uso de tubo de ventilação nos primeiros cinco anos de vida; e
Grupo Controle (GC), com 30 crianças sem histórico de OM. As crianças passaram
por avaliação audiológica básica (audiometria tonal, logoaudiometria e
imitanciometria) e foram incluídas apenas aquelas com resultados normais. O
PROSER foi administrado via software, com fones de ouvido, produzindo um
ambiente auditivo tridimensional. As crianças ouviram frases com estímulos
competitivos (histórias infantis) e repetiram o maior número de palavras. As histórias
foram apresentadas a 65 dB NPS e as frases a 72 dB NPS. O Limiar de
Reconhecimento de Fala (LRF) foi definido pela relação sinal/ruído que resultou em
50% de inteligibilidade em quatro condições do teste, considerando a localização do
estímulo (0º vs 90º) e a voz do falante (igual ou diferente). Foram calculadas três
medidas de vantagem (espacial, do falante e total). Os resultados foram
comparados com critérios de normalidade, considerando o PROSER alterado
quando pelo menos uma condição ou medida de vantagem estava fora dos
parâmetros. Resultados: Nas condições de MV0° (mesma voz), 16,6% do GEI e
GEII apresentaram alterações, enquanto o GC não. Na condição MV±90° (mesma
voz, estímulo a 90°), 33,3% do GEI, 23,3% do GEII e 6,6% do GC mostraram
alterações. Condições com vozes diferentes (VD0° e VD±90°) também revelaram
dificuldades nos grupos com OM em comparação com o GC. Em relação às
vantagens, as alterações foram evidentes nos grupos com OM. Na vantagem
espacial, 16,6% do GEI, 20% do GEII e 13,3% do GC apresentaram alterações.
Vantagem do falante, 6,6% do GEI, 3,3% do GEII e 3,3% do GC apresentaram
dificuldades. Vantagem total, as alterações foram de 20% no GEI, 16,6% no GEII e
6,6% no GC. No total, 45% do GEII e 56,6% do GEI apresentaram alterações no
PAE, enquanto 13,3% do GC foram alterados. Conclusão: A privação sensorial
decorrente da OM afeta negativamente o PAE nas crianças, prejudicando sua
capacidade de focar na mensagem em ambientes ruidosos e de suprimir estímulos
competitivos vindos de diferentes direções. Crianças com histórico de OM,
especialmente aquelas com FLP ou que utilizaram tubos de ventilação, estão mais
propensas a dificuldades no PAE.
DADOS DE PUBLICAÇÃO