AVALIAÇÃO DO SISTEMA AUDITIVO PERIFÉRICO E CENTRAL EM LACTENTES COM MÃES POSITIVAS PARA COVID-19 DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL
Raimundo, J. Q. ;
Colella-Santos, M. F. ;
Introdução: A COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, um novo membro da família de coronavírus. Embora a transmissão respiratória seja a principal via, preocupações surgiram em relação à transmissão vertical, a qual consiste na transmissão do vírus da mãe para o feto por disseminação de partículas virais no líquido amniótico. Objetivo: Analisar os efeitos da exposição vertical ao COVID-19 no sistema auditivo central e periférico de recém-nascidos (estudo I) e verificar se a COVID-19 durante a gestação é um fator de risco para alterações no sistema auditivo da prole ao longo do tempo (estudo II). Metodologia: Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sendo parte de um macroprojeto intitulado "Impactos da Covid-19 no sistema auditivo periférico e central de crianças e adolescentes," parecer nº 5.454.075. O estudo incluiu um Grupo Estudo (GE) e um Grupo Controle (GC). O GE foi composto por 23 lactentes, cujas mães foram infectadas pelo SARS-CoV-2. O GC foi composto por 15 lactentes cujas mães engravidaram após o término da pandemia, com teste negativo para COVID-19 e sem sintomas respiratórios na gestação. Os critérios de exclusão de ambos os grupos englobaram os indicadores de risco para a deficiência auditiva (IRDA) descritos pelo Joint Committee on Infant Hearing (2019) e crianças que apresentaram curva timpanométrica do tipo B. Essa pesquisa foi desenvolvida por meio de estudo de corte transversal (estudo I) e longitudinal (estudo II). No estudo I, foi realizada uma única avaliação nas crianças entre um e 12 meses de idade. Foram realizados os seguintes procedimentos: observação comportamental a estímulos sonoros, timpanometria, emissões otoacústicas evocadas por estímulo transiente (EOAT), emissões otoacústicas evocadas por Produto Distorção (EOAPD) e Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE). No estudo II foram aplicados os mesmos procedimentos do estudo I, sendo a primeira avaliação entre 1 a 3 meses e a avaliação sequencial entre 7 a 12 meses. Todos os procedimentos foram realizados em sala acusticamente tratada, e para os eletroacústicos e eletrofisiológicos com a criança em sono natural. Resultados: No estudo I, todos os participantes exibiram valores de latências absolutas dentro dos limites de normalidade para a faixa etária para as ondas I, III e V no PEATE. Entretanto, uma diferença estatisticamente significante foi observada na latência da onda I na orelha esquerda. Além disso, foi identificada uma tendência de respostas ausentes em altas frequências nas EOAT. No estudo II, notou-se uma diminuição da amplitude nas frequências altas ao longo do tempo nas EOAT e nas EOAPD. No que diz respeito à avaliação comportamental, o GC e o GE apresentaram desempenhos semelhantes nas respostas a sons não verbais. No reconhecimento de comandos verbais de nível I e nível II notou-se um maior atraso nas respostas dos lactentes que foram expostos á COVID-19 intrauterino. Conclusão: Não foram encontradas evidências que a exposição vertical ao COVID-19 provoque perdas auditivas. Entretanto, identificou diferenças estatísticas significativas entre o grupo controle e o grupo estudo, com uma piora no funcionamento das células ciliadas do GE ao longo do tempo.
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