AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL EM CRIANÇAS COM FISSURA LÁBIO PALATINA
QUEIROZ, J.M ;
COLELLA-SANTOS, M.F ;
Introdução: Por meio da audição a criança tem o primeiro contato com a linguagem. Os primeiros anos de vida são fundamentais no desenvolvimento global da criança. Nessa fase, quanto maior a quantidade de estímulos que a criança recebe, maior a riqueza das conexões neurais, contribuindo para o amadurecimento das vias auditivas e estruturas auditivas centrais. Crianças portadoras de Fissura Labiopalatina (FLP) apresentam maior frequência de Otite Média (OM) devido à ausência de barreiras físicas entre a cavidade oral e a nasofaringe, quando ainda não operadas, e também às modificações funcionais da Tuba Auditiva. A OM gera privação sensorial e distorção das mensagens recebidas, prejudicando o Processamento Auditivo Central (PAC). O PAC é o conjunto de atividades cerebrais que sensibilizadas por impulsos fisiológicos decodificam e interpretam os estímulos sonoros. O Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) envolve alteração das habilidades auditivas, interferindo no desenvolvimento global da criança, tendo como principal etiologia a OM de repetição. Objetivo: Este trabalho analisou a interferência da FLP nos testes do PAC. Metodologia: O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição (n°6.752.209). Assim, 60 crianças de seis a dez anos, de ambos os sexos, foram divididas em 2 grupos. O Grupo Controle (GC) foi composto por 30 crianças sem histórico de OM e sem FLP e o Grupo Estudo (GE) foi formado por 30 crianças portadoras de FLP já operada aliada ao histórico de OM de repetição. Os grupos foram submetidos aos seguintes testes: avaliação audiológica básica (audiometria tonal, logoaudiometria e imitanciometria), Teste Dicótico de Dígitos (DD), Teste Pediátrico de Inteligibilidade de Fala/Sentenças Sintéticas (PSI/SSI) e Gap in Noise (GIN) e o questionário de autopercepção e questionário específico direcionado aos responsáveis. Resultado: Nos testes do PAC, o grupo estudo apresentou um pior desempenho em ambas as orelhas quando comparado ao GC. Como critério de diagnóstico do TPAC de pelo menos um teste da bateria alterado, 80% dos participantes do GE foram diagnosticados com TPAC, enquanto para o GC a porcentagem foi de 16,6%. A privação auditiva decorrente dos episódios de OM de repetição compromete a maturação das vias auditivas centrais, prejudicando as habilidades auditivas. Com relação aos resultados nos testes aplicados, no Teste DD, 50% dos valores da orelha direita (OD) estavam abaixo do critério de normalidade e 56,6% na orelha esquerda (OE) para o grupo estudo. No GC os valores foram de 6,6% e 10% para OD e OE, respectivamente. No teste PSI/SSI na relação -15 dB o GE apresentou alteração em 26,6% na OD e 36,6% na OE; no GC essa porcentagem foi de 3,3% na OD e de 6,6% na OE. No teste GIN o GE apresentou menor desempenho bilateralmente com valores de 26,6% para OD e 30% para OE. Com relação aos questionários de autopercepção e ao questionário específico direcionado aos responsáveis, o grupo GE apresentou maior risco de TPAC. Conclusão: A maioria das crianças com FLP e histórico de OM de repetição apresentou TPAC, com maior prejuízo para a habilidade de figura-fundo para sons verbais.
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