EFEITOS DO TREINAMENTO AUDITIVO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE SOFRERAM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL – DESEMPENHO NOS TESTES DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
Ubiali, T. ;
Carvalho, N. G. ;
Elias, K. M. I. F. ;
Amaral, M. I. R. ;
Colella-Santos, M. F. ;
Introdução: Estudos sobre a avaliação e reabilitação das habilidades auditivas ainda são escassos na literatura em crianças e adolescentes diagnosticados com Acidente Vascular Cerebral (AVC), uma condição que embora rara na infância pode causar déficits neurológicos moderados a graves, impactando significativamente os processos de aprendizagem, linguagem e cognição. A avaliação do processamento auditivo (PAC) possibilita a compreensão de mecanismos que podem influenciar a percepção auditiva da fala e o processo de aprendizado. Uma vez identificadas as habilidades auditivas fortes e fracas, o treinamento auditivo é recomendado como uma estratégia importante de reabilitação baseado nos princípios da neuroplasticidade. Por esta razão, é crucial a avaliação e reabilitação do PAC como procedimentos que compõem o atendimento multidisciplinar destes indivíduos, minimizando os impactos negativos no desenvolvimento da criança. Objetivo: Analisar os efeitos imediatos do treinamento auditivo (TA) nos testes comportamentais do PAC em crianças e adolescentes que sofreram AVC. Métodos: Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (#505/2010). Inicialmente, foram selecionadas 10 crianças/adolescentes (sete meninas), encaminhadas pelo ambulatório de AVC infantil do hospital da instituição, com idades entre 7 e 15 anos (10,9 ±2,92), avaliação audiológica básica dentro da normalidade e ausência de condições que comprometessem o entendimento das tarefas auditivas. Todas as crianças foram submetidas à avaliação comportamental do PAC que foi composta pelos testes: Dicótico de Dígitos (TDD), Identificação de Sentenças Pediátricas (PSI)/Identificação de Sentenças Sintéticas (SSI), Gaps in Noise (GIN) e Teste de Padrão de Frequência (TPF), além de terem o Questionário de Autopercepção das Habilidades Auditivas (QAPAC) respondido pelos pais/responsáveis. Os participantes que apresentaram alteração em ao menos uma habilidade no PAC foram convidados a participar de um programa de TA composto por 8 sessões (uma sessão por semana) de 45 minutos cada. As sessões foram baseadas em atividades do portal “Afinando o cérebro”, incluindo estimulação das habilidades auditivas, memória e atenção. Após completarem o TA, as crianças foram reavaliadas com os mesmos procedimentos aplicados na avaliação. A reavaliação foi aplicada pela mesma pesquisadora da avaliação, enquanto o TA foi conduzido por outra pesquisadora. A análise estatística utilizou modelos lineares mistos (p≤0,05) e os resultados também foram interpretados com base no tamanho do efeito (TE). Resultados: Nove das 10 crianças avaliadas apresentaram alteração em pelo menos um teste e seis crianças consentiram em realizar o TA (n = 6, idade média = 10,67 ±2,07, quatro meninas). Na comparação entre os momentos pré e pós-TA, houve efeito com significância estatística e tamanho relevante para o fator Momento nos testes PSI/SSI (p=0,016), TPF (p=0,006) e QAPAC (p=0,026) e apesar da não significância estatística, o GIN apresentou TE relevante nessa análise (TE = 0,249). Na análise post hoc, foi observada influência da orelha, com melhora em ambas as orelhas pós-TA, sendo mais evidente na orelha esquerda (p=0,014 no PSI; p=0,004 no TPF). Conclusão: Foi possível verificar o efeito positivo no desempenho do comportamento auditivo após um programa de TA na amostra estudada. O treinamento auditivo é uma ferramenta útil para a reabilitação em crianças e adolescentes acometidos por AVC.
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