PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO OCUPACIONAL NO BRASIL E NO DISTRITO FEDERAL: ANÁLISE DE DEZ ANOS DE DADOS
Jesus, B.S.A. ;
Bastos, G.S. ;
Lentine, I.M.M. ;
Oliveira, T.C.G. ;
INTRODUÇÃO: A Perda Auditiva Induzida por Ruído Ocupacional (PAIRO) está entre os agravos relacionados ao trabalho de notificação compulsória, conforme a Portaria GM/MS nº 5.201, de 15 de agosto de 2024. Essa comunicação às autoridades sanitárias é de responsabilidade de profissionais e gestores de saúde, públicos ou privados, e abastece o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) com informações sobre a morbimortalidade de trabalhadores expostos a riscos ocupacionais. Contudo, a escassez de notificações de PAIRO favorece a invisibilidade do agravo para as autoridades e dificulta a construção de políticas públicas eficazes na prevenção e promoção à saúde auditiva. OBJETIVO: Descrever os dados epidemiológicos quanto a PAIRO no Brasil e no Distrito Federal (DF), de 2014 a 2023. METODOLOGIA: Os dados foram coletados no sistema TabNet/DATASUS, tabulador de domínio público que permite a consulta e extração rápidas de dados do Sistema Único de Saúde, abrangendo os anos de 2014 a 2023, por Região e Unidade da Federação (UF) notificadoras. RESULTADOS: O Brasil registrou 7.451 notificações de PAIRO, no período avaliado, sendo 2016 o ano com mais notificações (1.216 casos) e os estados mais notificadores: São Paulo (28,8%), Rio Grande do Sul (14,8%), Goiás (13,8%), Mato Grosso do Sul (9,6%) e Minas Gerais (9,4%), nessa ordem; o que refletiu nas regiões mais notificadoras: Sudeste (41,7%) e Centro-Oeste (31,6%). Quanto ao Distrito Federal, foram 609 notificações, representando 8,2% do total do país e 2023 o ano com mais notificações, 118 no total. Ao observar o perfil epidemiológico da PAIRO, encontrou-se que, das ocupações com mais notificações, os motoristas profissionais ocupam o primeiro lugar no Brasil com 737 casos (9,9%) seguidos de pedreiros (551; 7,4%) e alimentadores de linha de produção (374; 5%); nesse quesito, o DF se assemelha ao cenário nacional, uma vez que os motoristas representam a ocupação com mais notificações (89; 13,5%), porém acompanhados de cirurgiões dentistas (56 casos; 9,2%) e agentes de trânsito (43; 7,1%). Também é notável que, em geral, homens (88,3%) na faixa etária de 50 a 59 anos (32%) formam a maioria dos casos notificados, mesma tendência seguida pelo DF (76,5% e 37,4%, respectivamente). Contudo, o preenchimento incompleto da ficha de notificação impede a visualização do panorama real do agravo, uma vez que, por exemplo, 5.127 notificações não apresentaram o campo Atividade Econômica preenchido, inviabilizando a identificação dos setores econômicos que mais adoecem trabalhadores no país. CONCLUSÃO: Os resultados da pesquisa reforçam a importância do fonoaudiólogo na vigilância de doenças e agravos, uma vez que a subnotificação da PAIRO revela uma lacuna significativa na proteção da saúde dos trabalhadores brasileiros. Para mudar esse cenário, é fundamental investir na capacitação dos profissionais de saúde, implementar sistemas de notificação mais eficientes e estimular a integração entre serviços de saúde, empresas e órgãos de fiscalização. Além disso, é preciso ampliar o debate sobre a importância da saúde do trabalhador e promover a implementação de políticas públicas que visem à prevenção de doenças ocupacionais e à promoção da saúde no trabalho.
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