IMPACTO DO IMPLANTE COCLEAR REALIZADO PRECOCEMENTE NA QUALIDADE VOCAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA.
Oliveira, L.C. ;
Magalhães, A.T. ;
Queija, D.S. ;
Tsuji, R.K. ;
Bento, R.F. ;
Ubrig, M.T. ;
Gomez, M.V.G. ;
Introdução: Crianças com deficiência auditiva (D.A) severa e/ou profunda possuem restrições ao feedback auditivo, especialmente as pré-linguais, e enfrentam desafios no monitoramento auditivo da própria voz. Devido à ausência ou redução da percepção auditiva podemos verificar desvios na qualidade vocal, nos aspectos acústicos, prosódicos, ressonantais e articulatórios. O implante coclear (IC) possibilita melhores condições para o desenvolvimento da produção de voz e fala proporcionando feedback auditivo e representa o mais importante avanço no tratamento de crianças com D.A . Objetivo: Verificar se o uso do IC até os 4 anos de idade oferece características de voz dentro da variação da normalidade, em crianças e adolescentes com D.A severa a profunda. Metodologia: Estudo multicêntrico, prospectivo e de corte transversal aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número 6.937.244. Assinaram o termo de consentimento e participaram do estudo 68 crianças e adolescentes, com idades entre 4 e 17 anos, divididos em dois grupos. O Grupo 1 (estudo) foi composto por 31 crianças com D.A severa a profunda bilateral, uso fluente da linguagem oral e que tenham realizado IC unilateral ou bilateral há pelo menos doze meses, até os quatro anos, no grupo de IC de um hospital de atenção terciária. O Grupo 2 (controle) incluiu 37 crianças ouvintes, sem queixas auditivas e usuárias de linguagem oral, recrutadas dos irmãos dos implantados e de conhecidos dos autores do estudo. Foram coletadas amostras de fala e todas as gravações foram realizadas em ambiente silencioso, no computador e programa Audacity, microfone SM58 Shure e interface M-audio M-track solo. Para a coleta das amostras vocais foram utilizadas contagem de números, frases do protocolo CAPE-V, vogal sustentada /a/ e cantar “Parabéns a você”. As amostras das tarefas fonatórias de ambos os grupos foram editadas, randomizadas e analisadas por três juízes especialistas em voz e por três juízes leigos (não fonoaudiólogos), por meio de perguntas específicas sobre a qualidade vocal. Resultados: Com relação aos resultados principais, quanto aos julgamentos das vozes das crianças D.A implantadas: os juízes leigos fizeram 69 (74,1%) julgamentos identificando uma alteração na qualidade vocal global das crianças, enquanto os juízes especialistas fizeram 47 (50,5%); a tarefa de cantar “Parabéns a você” foi a mais apontada como responsável pela percepção de uma criança que nasceu com D.A em 48 (51,6%) julgamentos dos especialistas e em 8 (8,6%) dos leigos; os leigos fizeram 27 (29%) julgamentos das vozes de crianças implantadas como não parecendo voz de criança D.A, enquanto os especialistas fizeram 33 (35%); e em relação a naturalidade da voz, os juízes leigos fizeram 23 (24%) julgamentos das vozes como natural, enquanto os especialistas fizeram 46 (49,4%). Conclusão: Houveram certas diferenças na impressão dos juízes leigos e especialistas quanto a qualidade da voz global das crianças implantadas. Os especialistas referem que parte dos implantados apresentam naturalidade na voz, apesar de reconhecerem que são crianças com D.A e apenas metade da amostra foi apontada com alteração na qualidade vocal. Acompanhar a evolução da qualidade vocal pode contribuir para o aprimoramento das intervenções fonoaudiológicas.
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